O professor, pesquisador e médico Jorge Luiz Gross, após concluir a pós-graduação na USP Ribeirão Preto, em 1975, retornou à sua Alma Mater (UFRGS), onde havia concluído sua formação na Faculdade de Medicina no ano de 1970. No então jovem Hospital Escola da UFRGS, o HCPA, colaborou na organização dos ambulatórios, criando o ambulatório que viria a ser o Serviço de Endocrinologia do HCPA. Muito rapidamente este se transformou em um referencial da especialidade, unindo, desde sua origem, Clínica, Pesquisa e Ensino. A fim de cumprir com as competências, ele formou gerações de médicos e pesquisadores. Sempre teve como princípio recrutar e agregar pessoas, identificando e extraindo o melhor aspecto de cada colaborador, assim estimulando o seu crescimento pessoal e profissional.
Na UFRGS/HCPA deixou várias contribuições. Colaborou na criação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e do Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação do HCPA (GPPG), dando os primeiros passos na organização da pesquisa clínica no Hospital. Participou da criação da Biblioteca do HCPA, que por muitos anos abrigou a biblioteca da FAMED. Criou, junto com outros professores, o Programa de Pós-Graduação da Clínica Médica e depois o de Endocrinologia. Foi fundamental na concepção e execução da obra do prédio que hoje abriga o Centro de Pesquisa Experimental (CPE) que leva seu nome.
Seus principais interesses de pesquisa eram as complicações crônicas do diabetes mellitus e alimentação saudável. Publicou mais de trezentos trabalhos cientifícos que vão desde estudos epidemiológicos, clínicos observacionais, até de tratamento. Em 1983, já muito bem estabelecido (tanto na carreira acadêmica quanto na privada) decidiu expandir sua formação e fazer um pós-doutorado no Guy’s Hospital, em Londres. Lá fez amizade com o professor Viberti. Desta colaboração trouxe e implementou um método de medida da função renal que tem sido muito utilizado em pesquisa e que foi incorporado na rotina assistencial dos pacientes do HCPA. Em 2011, inquieto foi à Universidade de Bristol onde fez um treinamento avançado de meta-análise. No seu retorno, treinou pessoas que hoje são referência nacional neste tipo de estudo.
Entretanto, mais importante que sua contribuição nestas e outras áreas foi seu legado na formação de pessoas. Formou 31 mestres e 32 doutores. Quem trabalhou com ele o descreve como sendo brilhante; capaz de integrar várias áreas do conhecimento; capaz de formular as perguntas mais adequadas e relevantes, que seriam respondidas por pesquisa cuidadosa. Seus pacientes o descreviam como mais do que um cuidador, pois além das orientações sobre remédios ou cuidados com a saúde, sentiam nele um orientador para decisões das mais variadas em suas vidas pessoais. Como professor, tinha a capacidade de transmitir informações complexas como poucos. Suas palestras e apresentações eram sempre soberbas, nítidas, claras e de fácil compreensão.
Gostava de citar o dr. William Osler como exemplo de médico. Osler teria ficado orgulhoso de suas habilidades clínicas e qualquer pesquisador acharia difícil concorrer com sua competência. Deixou-nos precocemente em 2017, mas seus princípios e ideais, seu maior legado, estão presentes nas pessoas que levam seus ensinamentos adiante, transmitindo-os às novas gerações.
Escrito por Luis Henrique Canani
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